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A década de 80 do século passado foi uma das mais movimentadas para a Lamborghini. Mudanças na direção da empresa, vendas a outros fabricantes e um modelo bem-sucedido na reta final de seu ciclo de vida. Por outro lado, estava a parte do automobilismo esportivo, uma divisão em que a marca italiana queria investir, mas que sua situação econômica não permitia. Além disso, seus principais rivais competiam muito de perto com produtos que colocavam a marca de Sant’Agata Bolognese em cheque. No entanto, isso não impediu que a empresa embarcasse em um novo projeto, o do Lamborghini Countach LP500 QV Downdraft de 1985, o carro que homologaria a versão de corridas para o Grupo B de rallys.

Por razões óbvias, quem é seguidor do famoso Grupo B sabe que a Lamborghini nunca chegou a participar ativamente em nenhuma corrida dessa categoria. Apesar disso, a empresa italiana tentou de maneira oficial, e inclusive houve um projeto privado que pretendia levar o Countach ao Campeonato Mundial de Rallys e que, no final, derivou em um carro para o Grupo C, o Lamborghini Countach QVX.

Tudo remonta quase às origens do Grupo B (1982-1986). Esta categoria, onde havia limites apenas em termos de potência, se tornaria rapidamente na vitrine onde todas as marcas participantes do campeonato garantiam êxito de vendas em seus concessionários, conforme aconteciam as vitórias de seus carros na competição. Esta categoria do Campeonato Mundial se tornou, de repente, no foco de atenção de todo aquele fabricante com capital suficiente e a intenção de desenvolver sua trajetória no Motorsport.

Com Audi, Ford, Lancia, Peugeot e Renault disputando as vitórias no campeonato, foram muitas as marcas dispostas a investir os enormes lucros que a indústria automobilística reportava na década de 80. Empresas japonesas, pequenos fabricantes europeus e inclusive exclusivas marcas italianas foram dominadas pela adrenalina, o perigo e os excessos da categoria. Se hoje é impensável que marcas como Ferrari ou Lamborghini participem em um mundial de rallys, nos anos 80 era algo tangível.

Assim, a Ferrari com os F308 GTB, F288 GTO e inclusive o F40; a Porsche com os 911, 924, 928, 944, assim como o 959; e a Lamborghini com o Countach, decidiram tentar a sorte no Grupo B, iniciando seus programas de desenvolvimento particulares com a finalidade de cumprir com as exigências de homologação e poder chegar a participar algum dia nessa fervorosa categoria que tantos olhares atraía ao redor do mundo.

O Lamborghini Countach LP5000 QV Downdraft é um dos modelos mais raros de toda a linha Countach. Também conhecido como LP5000 Quattrovalvole, esta versão de alto desempenho é a mais rápida e potente já criada sobre a base do modelo. No total, 380 unidades dos 1.983 Countach produzidos receberam as especificações Downdraft, uma modificação que tinha a ver com o sistema de alimentação do motor V12 por carburadores.

Em 1985 o Countach LP5000 Quattrovalvole foi apresentado no Salão de Genebra. Esta versão era a opção mais potente e de maior desempenho da linha graças a um motor de 12 cilindros em V que aumentava sua capacidade até os 5.167 cc, com uma relação de compressão 9.5:1 e carburadores que foram mudados de posição, passando de estar localizados nas laterais dos cilindros para ficar em cima do cabeçote. Estas melhorias permitiram que o Countach alcançasse os 455 cv de potência e os 500 Nm de torque, superando os Ferrari Testarossa e F288 GTO, e inclusive o iminente Porsche 959.

O segredo da distribuição dos seis carburadores Weber, de modo que recebia o sobrenome ‘Downdraft’, se deve ao fato de que estes carburadores passaram de uma posição horizontal para uma vertical descendente e invertida. A diferença entre eles é que o carburador horizontal fornece a mistura de ar e combustível em um coletor, que leva a mistura ao cilindro, enquanto que o carburador descendente faz isso diretamente no cilindro (o tipo de carburador mais comum).

Por sua vez, o Countach LP5000 QV Downdraft se baseava nas especificações de quatro válvulas por cilindro (48 válvulas no total), em lugar de duas, o que significava uma melhora de rendimento, especialmente na gestão da admissão de ar e combustível, e na saída de gases de escape.

Uma vez desenvolvido o modelo de rua, a Lamborghini começou a montar o Countach LP5000 QV Downdraft. Os requisitos de homologação da FIA (na época FISA) ditavam que as marcas podiam construir veículos exclusivamente para competição se fabricassem pelo menos 200 unidades para o mercado - a versão de rua. No entanto, o ritmo de fabricação na Lamborghini não era dos mais rápidos, uma marca pequena e exclusiva que montava seus carros praticamente à mão.

Nos 16 anos em que o Lamborghini Countach esteve na ativa, foram criadas somente 1.983 unidades, de modo que para chegar aos 200 exemplares a Lamborghini levaria mais de dois anos. Em 1986, uma temporada marcada pelos acidentes fatais de pilotos do Grupo B e as vítimas entre o público que comparecia para assistir os rallys, fruto de carros cada vez mais rápidos graças a potências que rondavam os 500 cv e pesos de apenas uma tonelada (ou inclusive menos), terminou com o cancelamento do Grupo B e do que iria ser o seu sucessor em 1987, o Grupo S.

A Lamborghini viu o sonho de participar na vitrine midiática que era o Grupo B desaparecer, quando havia alcançado apenas a metade da produção das unidades mínimas para homologar o protótipo de competição. Embora se instaurasse o Grupo A para substituir a recém-cancelada categoria, o êxito não foi o mesmo diante de um público que rapidamente havia se acostumado à feroz velocidade dos carros do Grupo B.

No entanto, a Lamborghini, assim como outras marcas, não jogou a toalha e conseguiu a homologação do Countach LP5000 QV Donwdraft no dia 1º de janeiro de 1988. O protótipo de competição jamais chegaria a ser produzido e um total de 10 carros, entre Jaguar, Ferrari, Porsche, Alfa Romeo, Alpine-Renault e Lamborghini seriam homologados após o cancelamento oficial do Grupo B em 1º de janeiro de 1987 - alguns inclusive chegaram a ser homologados em 1993.

Hoje existe apelas a lembrança desse projeto que, pela própria história do Grupo B, jamais chegou a participar em competição oficialmente. Um total de 380 unidades de rua foram produzidas com as especificações Downdraft, os mais comuns na cor Rosso Siviglia, Bianco e Nero. Menos de 10% foram produzidos em cores únicas como Miura Bleau, Canne Di Fucile, Bianco Perlato, Verde Metillizato, Argento e Rosso Speciale. Geralmente alcançam preços de venda muito elevados, como um exemplar leiloado em janeiro deste ano pela Russo and Steele, com um preço que rondou os 700.000 euros.