A História da Karma Automotive: Das Cinzas da Fisker à Reinvenção no Luxo Elétrico
A Karma Automotive, um dos fabricantes de automóveis americanos mais emblemáticos no nicho de veículos elétricos de luxo, carrega uma trajetória marcada por inovação audaciosa, reviravoltas financeiras e uma resiliência notável. Fundada em 2014 a partir dos escombros da falida Fisker Automotive, a empresa sino-americana se transformou em sinônimo de performance híbrida e design premium, com sede em Irvine, Califórnia, e fábrica em Moreno Valley. Hoje, após uma década de desafios e avanços, a Karma se posiciona como pioneira em veículos de alcance estendido (EREV), mirando o mercado ultraluxuoso com modelos como o Revero e conceitos futuristas como o Amaris. Mas como chegaram até aqui? Vamos relembrar os principais capítulos dessa saga automotiva.
As Origens: O Sonho Ambicioso da Fisker Automotive (2007-2013)
Tudo começou em 2007, quando o designer dinamarquês Henrik Fisker, ex-executivo da Aston Martin e BMW, fundou a Fisker Automotive em Anaheim, Califórnia, ao lado de seu sócio Bernhard Koehler. Com o objetivo de criar veículos ecológicos de luxo, a empresa rapidamente ganhou holofotes ao anunciar o Fisker Karma, um sedan esportivo plug-in híbrido que prometia combinar elegância com eficiência energética. O Karma, fabricado inicialmente pela Valmet Automotive na Finlândia, estreou em 2011 no Salão de Detroit, atraindo celebridades e investidores com seu design fluido, inspirado em ícones como o Mercedes-Benz SLS, e um powertrain que entregava mais de 400 cv de potência, com 83 quilômetros equivalentes em modo elétrico segundo a EPA.
No entanto, o sonho logo se transformou em pesadelo. A produção enfrentou atrasos constantes, problemas com o fornecedor de baterias A123 Systems - que faliu em 2012 após recalls - e uma dependência de empréstimos federais dos EUA, suspensos em 2011 devido a irregularidades. Até novembro de 2012, cerca de 2.450 unidades do Karma foram produzidas, com mais de 2.000 vendidas mundialmente, mas a Fisker acumulou dívidas bilionárias. Em março de 2013, demitiu todos os funcionários americanos, e em novembro do mesmo ano, declarou falência. O colapso foi descrito pelo The New York Times como o ‘Solyndra do setor de carros elétricos’, referindo-se à perda de 139 milhões de dólares em fundos governamentais. A empresa vendeu ativos, incluindo designs, powertrain híbrido e uma fábrica em Wilmington, Delaware, por 25 milhões de dólares a uma holding, mas o destino final foi selado em 2014.
A Aquisição pela Wanxiang e o Renascimento como Karma Automotive (2014-2016)
Em fevereiro de 2014, o conglomerado chinês Wanxiang Group, especializado em autopeças, arrematou os ativos da Fisker por 149.2 milhões de dólares em um leilão de falência - excluindo a marca Fisker, que permaneceu com Henrik Fisker, que mais tarde fundaria a Fisker Inc. Com isso, nasceu a Karma Automotive, homenageando o icônico modelo original. A Wanxiang investiu pesado, relocando a produção para uma nova fábrica em Moreno Valley, Califórnia, e focando em uma abordagem mais pragmática: veículos de luxo híbridos com ênfase em personalização e engenharia.
O primeiro marco veio em setembro de 2016, com o lançamento do Karma Revero, uma versão revitalizada do Fisker Karma. Mantendo o exterior e interior originais, mas com melhorias no powertrain - incluindo baterias A123 e controles elétricos aprimorados -, o Revero prometia 320 km de alcance combinado e aceleração de 0 a 100 km/h em cerca de 5.3 segundos. A produção inicial foi modesta, visando 150 unidades em 2018 e 200-300 em 2019, vendidas via rede de concessionárias na América do Norte, Europa, América do Sul e Oriente Médio. No entanto, controvérsias surgiram cedo: em 2016, a empresa foi acusada de usar um comprador laranja para engenharia reversa de tecnologia de fornecedores.
Desafios e Inovações: Da Crise à Expansão (2017-2022)
Os anos seguintes foram de consolidação e turbulências. Em 2017, a Karma inaugurou o Innovation and Customization Center em Irvine, oferecendo serviços de engenharia, design e eletrificação para terceiros - uma estratégia para diversificar receitas além da venda de carros, já que depender apenas de veículos de luxo de baixo volume era arriscado. Em 2018, lançou o Revero Aliso, uma edição limitada de 15 unidades por 145.000 dólares, adicionando pacotes premium.
Mas os problemas persistiram. Em abril de 2019, um recall afetou todos os Revero devido a falhas em sensores de capotamento que desativavam airbags laterais. No mês seguinte, demitiu 200 funcionários em Irvine por dificuldades financeiras. Apesar disso, em 2019, revelou o Revero GT, com um motor BMW de 1.5 litros turbo de 3 cilindros como extensor de alcance, substituindo o antigo GM, e ganhando o prêmio de Carro Verde de Luxo do Ano pela Green Car Journal em 2020. O modelo oferecia 536 cv, 0-100 km/h em 3.9 segundos e 580 km de alcance. Em julho de 2020, captou 100 milhões de dólares de investidores externos, impulsionando o desenvolvimento. Em 2021, rebatizou o carro como GS-6 temporariamente, mas voltou ao Revero. Até então, havia vendido cerca de 1.000 unidades no total, com produção anual em torno de 100-160 carros.
O Presente e o Futuro: Foco em Ultra-Luxo e EREVs (2023-2025)
Sob a liderança de Marques McCammon, presidente desde 2023, a Karma adotou uma visão ambiciosa: tornar-se a ‘Aston Martin americana’ no segmento ultra-luxuoso, com ênfase em EREVs - híbridos que usam motores a gasolina como geradores para baterias elétricas. Em 2023, anunciou planos até 2028, incluindo o superesportivo totalmente elétrico Kaveya (adiado para 2027), o coupé Invictus (vendas no segundo semestre de 2025), o Gyesera de quatro lugares (final de 2025) e o Amaris, revelado em março de 2025 no Create Karma e exibido na Monterey Car Week em agosto. Esses modelos compartilham uma plataforma de alumínio, com powertrains de até 708 cv e alcances acima de 640 km.
A fábrica de Moreno Valley pode produzir até 15.000 veículos por ano em turnos completos, e a empresa espera lucratividade até 2028-2029. Parcerias com BMW (motores), Intel (IA) e Master & Dynamic (áudio) reforçam sua expertise em software-defined vehicles (SDV). Em 2024, celebrou 10 anos com eventos e iniciativas como programas STEM para jovens na Califórnia do Sul. Hoje, com propriedade chinesa via Wanxiang, a Karma vende globalmente, priorizando exclusividade - produções limitadas e personalizações que elevam o preço inicial do Revero a 200.000 dólares.
A história da Karma Automotive é um testemunho de ‘karma’ no sentido literal: ações passadas moldando o futuro. Das ambições visionárias de Fisker aos recomeços sob Wanxiang, a empresa superou falências, recalls e demissões para emergir como inovadora em mobilidade sustentável. Com o mercado de EVs em ebulição, especialmente EREVs ganhando tração na China contra BEVs puros, a Karma está pronta para acelerar - se o destino, e o mercado, permitirem. Fãs de luxo automotivo aguardam ansiosamente os próximos capítulos.