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A Light Car Company (LCC) é um capítulo fascinante e conciso na história da engenharia automotiva britânica, marcada pela obsessão por leveza, performance pura e inovação radical. Fundada em 1991 por dois ícones do mundo do automobilismo - o lendário designer de Fórmula 1 Gordon Murray e o ex-piloto de Grand Prix, Chris Craft -, a empresa surgiu em St Neots, Cambridgeshire, Inglaterra, com uma missão ambiciosa: criar o carro de produção mais leve de todos os tempos. Murray, famoso por obras-primas como o McLaren F1, e Craft, um veterano das pistas com passagens pela F1 e endurance, uniram forças para desafiar as convenções da indústria, inspirados nas corridas de meados do século XX e na simplicidade das máquinas de outrora.

O nascimento da LCC foi impulsionado por uma visão utópica: reduzir o peso a níveis extremos para maximizar a diversão e a eficiência, sem comprometer a segurança ou a usabilidade. Em uma era dominada por supercarros pesados e complexos, os fundadores optaram por um caminho minimalista. A produção começou imediatamente após a fundação, mas a LCC nunca visou volumes industriais. Ao contrário, focou em edições limitadas, produzindo apenas cerca de 55 unidades de seu único modelo até o fechamento em 1998. Essa escassez transformou o carro em um ícone cult, procurado por colecionadores e entusiastas que valorizam a essência crua do automóvel.

O Coração da LCC: O Light Car Company Rocket

O carro que definiu a empresa - e, de certa forma, sua única criação - foi o Rocket, um veículo que parece saído de um sonho de engenheiro maluco. Lançado em 1992, o Rocket era uma homenagem aos roadsters de corrida dos anos 1950, mas reinventado com tecnologia contemporânea. Seu chassi tubular de aço spaceframe, inspirado em designs de F1, pesava apenas impressionantes 170 kg, e o carro completo mal chegava a 390 kg - mais leve que um Lotus Seven ou um Caterham, e comparável a uma moto de alta performance. Essa leveza extrema era o segredo: o governo britânico sequer o classificava como ‘carro’ para fins regulatórios, devido ao peso irrisório.

Sob o capô (ou melhor, exposto ao ar livre), batia um motor de moto Yamaha FZR1000 EXUP de 1.000 cc, um inline-four que girava até 11.000 rpm e entregava cerca de 145 cv. Acoplado a uma transmissão sequencial Weismann de 5 velocidades e um diferencial de deslizamento limitado, o Rocket acelerava de 0 a 100 km/h em menos de 3.5 segundos e atingia velocidades acima de 240 km/h. O cockpit tandem, com assentos em linha reta (um atrás do outro), não só otimizava o centro de gravidade, como criava uma experiência de pilotagem intimista e visceral - o passageiro, se existisse, mal caberia, e muitos Rockets eram monopostos puros. Sem para-brisas, com freios a disco de alta performance e suspensão ajustável, o Rocket era um ‘kit car’ sofisticado, montado à mão em oficinas especializadas.

A produção evoluiu em fases: a original (Phase 1) de 1992-1995 focava na versão de rua, enquanto a Phase 2 (1995-1998) incorporava upgrades como freios mais potentes, painel digital e opções de carroceria de corrida, adaptadas a normas de emissões e segurança da época. Apesar das inovações, desafios técnicos surgiram, como integrar um motor de moto em um carro rodoviário, o que exigiu soluções criativas em refrigeração e eletrônica. Curiosamente, o Rocket até estabeleceu um recorde não oficial: o de carro mais rápido dirigindo de marcha à ré!

O Legado e a Evolução Pós-Produção

Em 1998, a LCC encerrou a produção do Rocket, mas a empresa não desapareceu completamente. Sob a liderança de Chris Craft e, mais tarde, de Chris Holley (sucessor de Craft), a companhia girou para serviços de restauração e preparação de veículos clássicos, especialmente Ferraris pré-1980 para eventos de concours e corridas históricas. Hoje, sediada em Stanford-in-the-Vale, Oxfordshire, a Light Car Company Ltd. mantém viva sua herança como uma ‘one-stop-shop’ de engenharia, com oficinas equipadas para chassis leves, motores vintage e acabamentos de luxo - incluindo um especialista ex-Rolls-Royce para interiores. Projetos de pesquisa e desenvolvimento, como chassis para corridas de 24 Horas de Le Mans, continuam a ecoar o espírito inovador de Murray.

O impacto da LCC vai além dos números: ela popularizou o conceito de ‘leveza como performance’, influenciando designs modernos como os hypercars de Gordon Murray Automotive (GMA), sua empresa atual, que lançou modelos como o T.50 em 2017. Livros como ‘The Light Car Company Rocket: The Singular Vision of Two Men’, de Clive Neville (2020), imortalizam sua história, destacando como Craft e Murray “mudaram a forma como as pessoas viam a performance em termos de velocidade, aceleração, handling e frenagem”.

Em um mundo de elétricos pesados e assistentes digitais, a Light Car Company permanece como um lembrete poético: às vezes, o melhor carro é o mais simples, o mais leve e o mais puro. Se você é fã de automóveis, o Rocket não é só um carro - é uma filosofia sobre rodas. Quem sabe, em uma pista vazia, ele ainda nos ensina a voar.